quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Breve historico da Ed. dos Surdos

1Breve Histórico da Educação dos Surdos

Os primeiros educadores de Surdos surgiram na Europa, no século XVI, criando diferentes metodologias de ensino, as quais se utilizavam da língua auditiva-oral nativa, Língua de sinais, datilologia (representação manual do alfabeto) e outros códigos visuais, podendo ou não associar estes diferentes meios de comunicação.

A partir do século XVIII, a Língua de Sinais passou a ser bastante difundida, na Europa, atingindo grande êxito do ponto de vista qualitativo e quantitativo, e permitindo que os Surdos conquistassem sua cidadania.

Porém, devido aos avanços tecnológicos que facilitavam o aprendizado da fala pelo Surdo, o Oralismo começou a ganhar força, a partir da segunda metade do século XIX, em detrimento da Língua de Sinais, que acabou sendo proibida, primeiramente na Europa, depois nos países da América. A filosofia oralista baseia-se na crença de que a modalidade oral da língua é a única forma desejável de comunicação para o Surdo e que qualquer forma de gesticulação deve ser evitada.

No Brasil, na década de 60, a Língua de Sinais tornou a ressurgir associada à forma oral, com o aparecimento de novas correntes, como a Comunicação Total e mais recentemente, o Bilingüismo.

Segundo a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (1977), pode-se dividir a história da humanidade, de acordo com o modo como os deficientes foram tratados e considerados, em cinco fases:
1. Fase filantrópica – em que as pessoas com deficiência eram consideradas doentes e portadoras de incapacidades permanentes inerentes à sua natureza. Portanto, precisavam ficar isoladas para tratamento e cuidados de saúde;

2. Fase da “assistência pública” – em que o mesmo estatuto de “doentes” e “inválidos” implicava a institucionalização da ajuda e da assistência social;

3. Fase dos direitos fundamentais iguais para todas as pessoas, quaisquer que sejam as suas limitações ou incapacidades. É a época dos direitos e liberdades individuais e universais de que ninguém pode ser privado, como é o caso do direito à educação;

4. Fase da igualdade de oportunidades – época em que o desenvolvimento econômico e cultural acarreta a massificação da escola, e ao mesmo tempo, faz surgir o grande contingente de crianças e jovens que, não tendo um rendimento escolar adequado aos objetivos da instituição escolar, passam a engrossar o grupo das crianças e jovens deficientes mentais ou com dificuldades de aprendizagem;

5. Fase do direito à integração – se na fase anterior se “promovia” o aumento das “deficiências”, uma vez que a ignorância das diferenças, o não respeito pelas diferenças individuais mascarado como defesa dos direitos de “igualdade” agravavam essas diferenças, agora é o conceito de “norma” que passa a ser posto em questão.

Segundo Levy & Simonetti (1999), num passado não muito remoto, a sociedade freqüentemente colocava obstáculos à integração das pessoas deficientes. Receios, medos, superstições, frustrações, exclusões, separações estão, lamentavelmente, presentes desde os tempos da antiga Grécia, em Esparta, onde essas pessoas eram jogadas do alto das montanhas, ou em Atenas, onde elas eram abandonadas nas florestas. A Idade Média foi um período em que, pessoas com alguma deficiência, eram freqüentemente apedrejadas ou levadas à morte nas fogueiras da inquisição, pois eram consideradas como possuídas pelo demônio.

Araújo, Pracownik & Soares (1997) destacam que no séc. XIX e princípios do século XX, a esterilização foi usada como método para evitar a reprodução desses “seres imperfeitos”, ao mesmo tempo em que o nazismo promoveu a aniquilação pura e simples das pessoas com deficiência, porque não correspondiam à “pureza” da raça ariana. Paralelamente a estas atitudes extremas de aniquilamento, outras atitudes eram adotadas, como o isolamento destas pessoas em grandes asilos (como na Inglaterra), além de comportamentos marcados por rejeição, vergonha e medo.

Segundo Moura (2000), durante longo tempo, os Surdos estiveram incluídos na categoria de doidos, abobados, doentes mentais, entre outras denominações, sendo excluídos da sociedade e muitas vezes até encarcerados. Considerados inaptos para a educação na Antigüidade chinesa, os Surdos eram lançados ao mar. Os gauleses os sacrificavam aos deuses Teutates por ocasião da Festa do Agário. Em Esparta, os Surdos eram jogados do alto dos rochedos, e em Atenas, eram rejeitados e abandonados nas praças públicas ou nos campos. Os gregos, como também os romanos, consideravam os Surdos privados de todas possibilidades de desenvolvimento intelectual e moral. Porém, a partir da Revolução Francesa, com suas bandeiras de liberdade, igualdade e fraternidade, foi que estas pessoas passaram a ser objeto de assistência, mas ainda não de educação, e entregues aos cuidados de organizações caritativas e religiosas.

Segundo Levy & Simonetti (1999), até o final do século XV, educar Surdos era considerada uma missão impossível. Graças ao empenho de pessoas que não se enfraquecem frente aos obstáculos, esta missão transformou-se numa tarefa conquistada. Pedro Ponce de León (1520-1584) iniciou a educação de Surdos na Espanha através da Língua de Sinais e Alfabeto Manual.
A educação do Surdo somente inicia-se na Idade Moderna, na Espanha, com Pedro Ponce de León (1520-1584), que consegue ensinar os Surdos, filhos de nobres, a falar, ler, escrever e alguns até aprender filosofia. Nesta época, só quem sabia falar tinha direito à herança, com isto ele demonstrou que o Surdo poderia aprender, contrariando o que se pensava na época. (LEVY & SIMONETTI, 1999, p.11)

Segundo Moura, Lodi & Harrison (1997), Juan Pablo Bonet (1579-1629), retomando o trabalho de Ponce de León, publicou o primeiro livro de educação de Surdos em 1620, onde registrou o alfabeto manual. O trabalho de Bonet “serviu de modelo para três pilares da educação oral: Pereire, nos países de língua latina; Amman, nos de língua alemã; e Wallis nas ilhas Britânicas”. Johann Conrad Amman publicou, em 1704, um livro que foi a semente para a construção do modelo alemão para a educação institucionalizada do Surdo. Quase todos os países de Língua Alemã seguiram direta ou indiretamente o seu método. John Wallis (1616-1703), na Inglaterra, defendeu o treinamento da fala independente do Alfabeto Manual; iniciou a educação através de gestos naturais e depois língua escrita.

Segundo Lodi, et. al (2002), Charles Michel de L´Epée (1712-1789), grande colaborador da causa surda, juntamente com dois Surdos franceses, Sicard e Clerc, fundou, no ano de 1755, na França, a primeira escola para Surdos, com base na Língua de Sinais, onde gestos naturais e o alfabeto manual eram utilizados somente para nomes próprios ou termos abstratos. Até o ano de sua morte, em 1789, os Surdos contavam com mais de 21 escolas, distribuídas nos centros europeus. Defendeu a Língua de Sinais como sendo a língua natural / materna dos Surdos. Concluiu que a Língua de Sinais acontece através da linguagem gestual / visual e é um verdadeiro meio de comunicação e desenvolvimento do pensamento. Samuel Heinicke ( 1723-1790), professor alemão, começou a desenvolver o trabalho de oralização da pessoa com surdez, baseando-se prioritariamente na leitura labial. Em 1750 fundou a primeira escola pública oral, onde passa a atender cerca de 75 alunos Surdos. Thomas Hopkins Gallaudet (1787-1851), norte-americano, em 1816 foi para Europa estudar o trabalho realizado pela família Braidwood na Inglaterra, unicamente oralista, e com o Abade L´Epée, na Instituição de Surdos em Paris, que utilizavam o método manual, onde realizou um estágio. Juntamente com Laurent Clerc (jovem professor Surdo, fluente na Língua de Sinais) fundou a primeira Escola para Surdos, em 1817, em Hartford, EUA, introduzindo o alfabeto manual na escola. Edward Miner Gallaudet, filho de Thomas Gallaudet, fundou, em Washington, no ano de 1864, a primeira e até hoje, única Universidade para Surdos em todo Mundo.

Segundo Moura, Lodi & Harrison (1997), o ano de 1880 marcou a história e aumentou as controvérsias entre as abordagens educacionais para Surdos com o 2º Congresso de Milão, quando o método oral é introduzido oficialmente na França e fica proibida qualquer outra abordagem. A partir deste fato, a história da educação do Surdo passa a ser a história do método oral, principalmente a abordagem multissensorial, que enfatiza o uso das várias vias sensoriais para o desenvolvimento da fala: audição, visão e tato, proibindo o uso de alfabeto manual e de gestos, e o ensino baseado em sinais. O Congresso de Milão adota, intencionalmente, o Oralismo, e exclui a Língua de Sinais da educação de Surdos. As ciências humanas e pedagógicas, daquela época, aprovaram o Oralismo porque respeitava a concepção filosófica aristotélica em que o mundo de idéias, de abstrações e da razão é representado pela palavra, enquanto o mundo do concreto e do material, é pelos sinais.

De acordo com Skliar (1998), foi a força do clero, que num primeiro momento rejeitou o Oralismo como representante do poderio alemão, mas que depois percebeu-o como uma força importante para motivações espirituais e confessionais e de controle. Após a 2ª Guerra Mundial, os direitos humanos começaram a ser valorizados; surgem os conceitos de igualdade de oportunidades, direito à diferença, justiça social e solidariedade nas novas concepções jurídico-políticas, filosóficas e sociais de organizações como a ONU – Organização das Nações Unidas, a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, a OMS – Organização Mundial da Saúde, a OIT – Organização Internacional do Trabalho e outras. As pessoas com deficiências passaram a ser consideradas como possuidoras dos mesmos direitos e deveres dos outros cidadãos, e entre eles, o direito à participação na vida social e à sua conseqüente integração escolar e profissional. Durante quase 100 anos reinou o “império oralista” como ficou conhecido pela comunidade Surda, mas, em 1971, no Congresso Mundial de Surdos em Paris, a Língua de Sinais passou a ser novamente valorizada.